Para começo de conversa! Faz tempo, não faz? Faz. Essa nova história curta já está finalizada, por isso eu estou aqui, por isso eu dei as caras. Não quero vir pela metade, e é justamente isso, ''metade'', que tudo se trata.
Para quem não sabe, minha melhor amiga, Caroline, eu conheci por aqui. Ela era/é minha leitora, mora no Rio de Janeiro, e se tornou uma parte de mim. Por isso o título dessa short. Duas partes. É algo totalmente novo! É original. E é sobre minha amizade com ela, nosso encontro, nossas brigas, sobre a gente! Sobre amizade a distância. Mas traz esperança. O aniversário dela foi dia 21(25 u.u) de abril, e eu queria fazer algo para ela. Eu poderia fazer um texto fofo no Facebook, eu fiz. Poderia postar fotos, eu fiz. Poderia fazer declarações, eu fiz. Mas eu queria fazer algo nosso, para ela, algo meu. Então o que melhor do que fazer uma história totalmente dedicada a ela? Foi por isso que a gente se conheceu, né?! Eu escrevo, ela lê. Então estou postando aqui, por que foi aqui onde a gente se conheceu.
Enfim! Mais esclarecimentos, no final ;)
[Aviso para a Carol antes de ler: Leia com calma, se lembre de todas as nossas conversas, desabafos, brigas, tudo! Vai ter muitas coisas fragmentadas e cada uma tem seu significado; as partes estão espalhadas por toda a história, sério, para um melhor aproveitamento, leia tudo com muuuuuita calma e lembre, relembre, por que se você achou algo, não, eu não escrevi isso por acaso, foi tudo muito pensado e eu mesma fiquei embasbacada quando eu li, reli, li de novo e assim vai. Ah! Te amo, espero que você goste ;)]
Sinopse:
O sonho de Daphne, uma garota carioca de 15 anos, é ser uma fotógrafa e morar em Londres; ao menos um de seus sonhos. O sonho de Beatrice, cearense, que tem 16 anos, é ser uma escritora reconhecida, e morar em NY! O que essas garotas opostas tem em comum, sendo que nem da mesma cidade são? O sonho de sair de seu país de origem e se mandar para o exterior, explorar o mundo! De morarem em Londres juntas. Um sonho sonho em comum. Elas são pedaços diferentes do mesmo coração partido.
~~ \\ ~~
Daphne/
O ar frio me embala como
um cobertor, eu me sinto fria realmente, e por mais que as pessoas digam que
isso é ruim tanto em estado físico como psicológico eu não me importo, não
mais; eu apenas aprecio o frio que me faz companhia sentada no banco de madeira
ao meu lado, enquanto observamos a gigante roda a nossa frente, ou roda
gigante, tanto faz! Mas eu prefiro chamar de realização de um sonho, ou de
Beatrice, mas eu prefiro chamar de "Bê".
London Eye! O olho de
Londres! E por longos anos, esse lugar era refletido a todo o momento pelos
meus olhos como um sonho, uma meta, quase como uma futura conquista ou um
futuro-futuro para quem conseguia enxergar através da nevoa de medo que cobria
meus olhos, quase como uma segunda pele, quase me cegando. Bem, poucas pessoas
conseguiam enxergar através dela, poucas pessoas conseguiam me enxergar por detrás dela ou por sobre
ela, e as que conseguiram, não ficaram, se assustaram; mas a única que
conseguiu e ficou, já se foi, eu a afastei de mim, ou melhor, eu que me afastei
das pessoas! Eu queria aceitação, e como eu não tive, eu me afastei e busquei
minha auto-aceitação. Bem, até hoje eu não consegui; agora, sentada em um banco
em Londres observando London Eye, com 27 anos, com minha profissão de fotógrafa
profissional estabilizada e completamente livre, eu não me sinto presa nem por
um misero segundo! Mas eu não me sinto como da primeira vez.
Beatrice
está morta.
Eu recebi a notícia há
semanas em suas redes sociais, e a filha da mãe ainda nem tinha publicado o
outro livro de sua saga! Em meu celular eu rolo sobre as nossas mensagens
mandadas há anos, e o apelido mutuo de "Bê" se sobressaia em todos. Eu era sua garota, e quando ela se
foi, eu só queria que a merda toda fosse enterrada junto com ela! Eu era livre!
E agora eu entendia que ela só queria me prender em algo, ao menos em algo...
"Para sempre quando
você se perder em seu grande pequeno mundo, você ter algo a quem voltar".
Uma citação discreta em
um de seus livros. Merda! Ela morreu de desgosto de mim, assim que percebeu que
eu tinha mordido a corda! Céus, sua vida era um pesadelo de um sonho! Ela não
tinha a quem correr, mas sempre tinha alguém lá para lhe puxar para um abraço.
Ela era famosa! Quem não queria um abraço dela? Eu queria! Mas quando ela abriu
os braços, eu fugi, por que ela os fecharia mesmo que em um abraço.
Levantei meus olhos do
meu celular e suspirei.
Semanas.
Meses.
E eu ainda não achei
minha aceitação, e agora eu sei que ela está enterrada num tumulo.
Ou na minha frente.
‘Bê’ roda refletindo a noite, a paisagem está maravilhosa! Alcanço
minha máquina fotográfica na minha bolsa e saco ela para tirar uma foto. Estanco,
abro a boca descrente, meus olhos se arregalam e eu posso ouvir uma gargalhada
carregada de sotaque rindo de mim.
Minha câmera velha.
Podre.
E em um click eu acordo.
Sinto o suor na ponta do
meu dedo que está pronto para apertar o botão da minha câmera como um gatilho
para matar um homem, mais precisamente, todo mundo; eu queria macerar todos e
os verem babar pelas minhas fotografias, só para depois eu fechar sua boca e
dizer que sua presença insignificante poderia acabar com a foto. Mas a
insignificante ali era eu. Era eu que me sentia insignificante e humilhada.
Canalhas ostentadores! A quem eu queria enganar? Minha câmera era podre!
Enquanto a deles era... Ótima! Minhas fotos seriam excluídas por mim mesma pela
qualidade tosca em comparação à deles. Tirar fotos ótimas requer câmera ótima!
É assim que o mundo caminha, e enquanto eu sonho com uma nova, os velhos ostentadores
levam os créditos.
Engulo o choro e a mágoa
como sempre, e converso com a Bê e desabafo, como sempre.
— Pare de ser idiota!
Você é ótima, e não precisa ter uma câmera ótima para provar isso. Tá, ser
humilhada é um saco, essa situação é difícil, mas você não é a única; já
tentaram me humilhar na escrita, mas eu não precisei provar nada para eles para
provar algo. Se Deus quiser eu vou crescer nisso e eles vão ver por si só. Eu
tenho que provar algo é para mim mesma! Vou crescer nisso e ir para fora do
Brasil, e que as pessoas que tentaram me humilhar se ferrem!
E como sempre, ela
acalmou meu coração. Ela faz isso comigo, e acredito que com todas as pessoas.
Ela mexe com nosso coração, segura ele na mão e o acaricia, aperta até nos
fazer chorar ou explodir, ou tudo ao mesmo tempo. Ela tinha que conseguir o que
queria, por que se ela não conseguisse, seria porque ela não queria, mas era
impossível, ela amava isso, era sua vida.
— Mas Bê, dói...
Fui sincera, e falando
assim, parecia que nem estava doendo, que eu era uma fraca. Eu também estava
com raiva, mas esse sentimento se voltou contra mim por ter falado isso para
Beatrice; mas não tinha como não falar, ela parecia tão... Tão... Tão
confiável, uma pessoa de outro mundo, quase como um reflexo da minha alma, ali,
em carne e osso. Palavras certas na hora certa. Um efeito.
— E nunca vai parar de
doer, essa dor só vai aumentar se você não souber como lidar com ela. Não é
privando a dor de entrar que você vai parar de sofrer. Não é fugindo da guerra
que você vai vencer ela.
Às vezes ela falava tão
exageradamente! Mas ela era dramática e dramaturga, ela tinha que ser assim.
Mas ela ainda assim estava certa, ela quase sempre está, e quando é provada do
contrario, ela continua certa, certa para ela mesma. E é isso que importa,
certo? Egocentrismo? Talvez. Mas então amor próprio é egoísmo. Mas eu acho que
me incomoda o fato de que ela pode me conhecer verdadeiramente, ou ao menos
saber de uma parte de mim que ninguém deveria saber, nem eu mesma. Eu quero ter
algo a esconder dela, já que ela me esconde tanto, não quero parecer indefesa,
mas é como remar contra a maré. Eu posso já ter a machucado alguma vez, ela
gosta de ter um pouco de controle, a vida dela já é uma loucura sem controle!
Mas... Beatrice é uma incógnita, ela está fora de alcance e isso a protege,
isso me protege, se eu pudesse tocar nela ela explodiria em minhas mãos.
Enquanto balanço uma
caneta entre meus dedos, uma folha rascunhada está a minha frente. Não é
inveja, não pense isso, eu só estou querendo espairecer. Por que eu tenho tanto
medo de me arriscar? Céus, isso não deveria ser tão difícil. Minha irmã está
rindo em um lado, e é só isso que eu consigo entender que está acontecendo ao
meu redor. E o sonho de hoje mais cedo? Aquilo foi louco! Por um lado eu queria
acreditar que tudo aquilo fosse verdade, mas por outro... Bê morta? Eu em Londres! Esqueci da outra parte e me foquei em
Londres. Eu estaria fora do Brasil, longe de tudo e de todos; eu queria isso, a
própria Beatrice sabia disso! E por um momento eu não me culpei por querer que
aquilo tudo fosse verdade, mesmo que Beatrice... Eu poderia conviver com isso.
E não era só, porque, principalmente agora, eu estava querendo sumir.
Problemas familiares
sempre puxam lágrimas, e o lado mais fraco da corda sempre arrebenta. Odeio me
verem ou saberem que eu chorei, é uma merda! Eu não sou fraca, e para variar eu
sou culpada por mais uma coisa: minhas próprias lágrimas. Disso eu me culpo: me
importar muito. Posso não está falando nada com nada, mas é assim que está
minha vida. Para uma adolescente de 15 anos normal isso é o fim do mundo, mas
para mim, é só o começo. Guardo a folha que eu estava escrevendo como se eu
estivesse guardando minhas mágoas e meu passado podre, minha realidade
alternativa ridícula e meu mundo humilhante, porque na verdade, eu estava
guardando tudo isso. Eu tinha medo demais de me descobrirem, como se uma autora
estivesse jurando quem realmente foi seu primeiro amor em uma historia porque
tem medo de falar isso em alto e bom som; e não é como se eu estivesse falando
mal de uma amiga, mas Bê também sabe
que eu tenho medo, e que ela também tem. Eu estou mudando, ela sabe que
sim, até os que não me conhecem a fundo sabem disso, principalmente esses; eu estou assim... Aprendi com as pancadas,
fiquei caliçada, estou menos otária e menos ingênua; agora eu sei manipular, e
aprendi a fingir ser manipulada. Beatrice já falou isso para mim, e por incrível que pareça ela está mais
afetiva; não sei como ela se sentiu por revelar isso. Ela estava me perdendo?
Eu acho que sou eu, eu mesma estou me perdendo; ou eu nunca me tive.
Me pergunto quem sou eu, mas minha linha de pensamento é interrompida por mim mesma.
Por mim em Londres.
"Não poderia fazer
sentido. Não poderia! Eu não sinto mais minhas pernas, meu coração
acelera e eu quase posso ver meu peito correndo sobre meu próprio corpo, meu sangue
ficando preto de imundice como meu passado e meu futuro. Eu não devo querer
morrer sozinho, reflito, mas eu sei que devo, eu sei que mesmo que eu queira
alguém conhecido para chorar sobre meu corpo nojento e lavar o mesmo com suas
lágrimas, eu não teria. Não foi as pessoas que se afastaram de mim, fui eu! Fui
eu que me afastei delas! E agora eu mereço morrer só, eu deveria querer isso
por um dia ter fugido para longe de todos e ostentar meu status. Mas agora eu
só tenho isso... Eu não tenho nada, só o orgulho que me mata aos poucos como
napalm em minhas veias. Eu não estava morrendo, eu estava vivendo. Eu já estava
morta. Todos já estavam mortos. A vida é isso: uma maldita piada morta, que
morre na boca, morre no riso, morre no chão se debatendo enquanto
gargalha."
Beatrice é uma filha da
mãe! Quando acordo essa mensagem está no meu celular junto com "Está bom?
Acho que estou perdendo o jeito!". Realmente, em sua nova rotina em escola
integral estava tudo mais difícil e escasso seu espaço de tempo vago, mas
estava bom, não estava? Mas... Se era isso que ela queria para a vida dela,
porque ela não investe nisso? Talvez eu esteja querendo que ela faça uma
escolha de sua própria vida. Talvez ela não queira só ganhar dinheiro e se
mandar para o exterior. Talvez ela só não queira fazer uma escolha. Talvez ela
queira mais da vida, mais dela. Talvez seja tudo junto! Mas mesmo assim eu
perguntava, porque já cansei de elogiar seus textos. Ela era insegura ou o que?
E então a gente brigava, e eu sabia que ela se magoou porque a vida é dela e eu
mesma não gosto nem que minha mãe se meta nas minhas decisões! E isso tudo era
um saco, eu não era obrigada. A aturava, por vezes a ignorava, em outras a
magoava, mas Beatrice consegue ser vingativa, ou não, porque eu sabia que ela
seguiria sem mim se eu escolhesse seguir sem ela. E merda! Quem não iria querer
ser amiga, ter a mesma intimidade que eu tenho com ela? Ela era... Diferente.
Alegre e melancólica, ela ri e chora melancolia; mas eu perderia ela, eu já
estou perdendo. Quando ela cria vergonha na cara, não sossega até que a
situação esteja resolvida, ou finalizada. Sua decisão é forte e persuasiva.
Perigo. Perigo. Perigo. Era isso que estava escrito em seu coração; e no meu
também. O fim estava perto, eu podia sentir o ar rarefeito e meu coração
tampando meu ouvido com seus batimentos cardíacos. O lençol estava me cobrindo
completamente, e quando o ar faltou eu tive medo, voltei para aquela garotinha
ingênua e sabia que algo estava faltando em mim.
Ar.
Beatrice.
Tirei rapidamente o lençol de cima de mim buscando ar, como meu primeiro sopro
de vida. O ar voltou para mim.
Beatrice também.
Oh meu Deus...!
Bê!
Beatrice/
Pensei em
escrever para ela, ou sobre ela.
Pensei em
voar para sua cidade e chacoalha-la pelos ombros para ver se ela reage.
Pensei em
machuca-la para ver se ela grita.
Pensei em
chorar para ver se ela chora também, para a ver limpar minhas lágrimas enquanto
eu limpo as dela.
Pensei
pela milésima vez em voar para sua cidade e abraça-la novamente, por que eu
nunca pensei que aquela seria a única e última vez.
Nunca
escrevo em papel, não me olhe estranho, prefiro mil vezes digitar, é como se
assim meus dedos conseguissem acompanhar meus pensamentos, mas hoje,
especificamente agora, eu me lembrei dela, do que aconteceu e do que eu nunca
terminei. Peguei uma caneta e olhei o papel branco na minha frente. Pensei em
ir trocar a caneta, pensei na cor do papel, pensei no que eu ia escrever,
tentei pensar em tudo! Mas nada vinha, só aquele incomodo de que algo estava
faltando, de que eu estava perdendo algo. E era disso que eu precisava.
Encostei a caneta no papel e um vento forte me bateu, eu estava com frio!
Levantei a cabeça do papel e olhei ao redor. Merda! Onde eu estava? Um casaco
abraçava minha pele e eu estava incrivelmente linda, quer dizer, eu me sentia
linda! Saquei meu celular que eu senti no bolso de trás e olhei na câmera
frontal. Aquela era eu? Bem, Bê sempre citou ‘’ Se o espelho da sua casa mostrasse sua alma, você se reconheceria?’’,
ignorando que eu estou olhando no meu celular, a resposta é sim, agora, eu me
reconheceria. É assim que eu me imaginei, é assim que eu sonhei, e não tem nada
que eu reconheça mais que meu próprio sonho. Eu que o sonhei! Eu que o escrevi
em letras transparentes para ninguém ver, ninguém ler, ninguém roubar minha
futura felicidade como sempre faziam com minhas velhas. Olhei a data no celular
e merda, anos se passaram! Eu tenho realmente 28 anos? Eu perdi tanta coisa! Ou
nunca tive muito a se perder. Pelo meu próprio celular, bolsa, roupa, onde eu
estava! Eu sabia. Tinha se realizado. Dei uma rápida checada no meu e-mail e eu
apenas ri; inacreditável! London Eye está na minha frente e eu não ligo para
mais nada, tudo aconteceu. Mas... Se isso tudo é um sonho, por que eu estou em
Londres e não em NY? Meus sonhos mudaram, ou eu só estou em um deles? Por que
não se engane, eu escrevo a tempo demais para não conseguir manipular meus
sonhos; quer dizer, um deles era justamente eu brincando de o manipular!
‘’Sonhos versus Realidade,
best-seller.’’
Não, não,
não, não era essa minha prioridade, mas meus sonhos estão se escrevendo
sozinhos, e dessa vez eu não me importo, só me deixo levar. Visualizo um banco
de madeira com uma visão privilegiada para a roda gigante iluminando a noite e
eu não ligo que tem alguém sentado no canto do mesmo, minha vergonha nesse
momento simplesmente desapareceu, ou se escondeu de medo. Sento no banco e me
lembro que ainda estou com uma folha em minhas mãos, a mesma que me ‘’
teletransportou’’ para cá, mas ela está amassada, como se eu tivesse a
resgatado como uma bola de papel e a desamassado, deixando-a plana novamente,
mas com inúmeros riscos a marcando-a. Oh! A folha está em branco, mas mesmo
assim ela foi amassada. Tento desesperadamente enxergar algo, forço meus olhos,
viro a folha e olho no seu verso se tem algo. Tem que ter! Meu Deus, por que a
mesma sensação que me trouxe aqui está vindo de novo? Já passou, não passou?
Sim, e é exatamente isso. A caneta em minha mão está quebrada, mas mesmo assim
eu a encosto no papel e começo a rabiscar, é isso, eu preciso escrever, em uma
respiração forte e forçada do ar frio de Londres, com o rosto iluminado pelas
luzes de London Eye, em mais um vento forte, eu me vejo em um soluço rouco, meu
rosto iluminado de lágrimas e o suor em minhas mãos não me deixando escrever.
Eu
voltei.
A folha
ainda está na minha frente, lisa.
A caneta
ainda está em minha mão, nova.
‘’ Tento escrever um uma folha que antes
estava em forma de bola; desamasso-a e tento a deixar plana, mas ela ainda está
com inúmeros riscos brancos, ranhuras por ela ter sido amassada.
- Estou tentando escrever em mim.’’
Daphne/
Bê!
Era ela
que sentou nesse banco! Céus, mas ela está morta! Quando eu vi alguém vindo em
direção ao banco minha timidez simplesmente me retraiu e me abraçou, me
enclausurando em mim mesma, impedindo-me de olhar para o lado e ver quem é, se agarrando em
minha língua e a pesando, não me deixando falar, não me deixando a reconhecer!
Mas ela estava tão mudada... Mas bastaria eu olhar para o colar que ela ostenta
em seu pescoço e eu saberia... Eu odeio dourado, e ela também, mas ela ainda
usa... Só. Por causa. De mim.
Levo
timidamente as pontas dos meus dedos para meu pescoço enquanto meus olhos são
carregados para London Eye, quando eu toco a prata fria retraiu meus dedos
automaticamente, achando ter tocado meu coração. Essa época do ano é bastante
fria em Londres, falo como justificativa para mim mesma, mas não é por causa
dessa época que a prata ficou muito fria... Beatrice morta, meu aniversário está perto e não é
como se eu fizesse 15 anos para ser uma data tão importante, mas eu estou em
Londres! Sozinha. Aperto a prata fria em minha mão e meus dedos delineiam o ‘’B’’ em seu pingente. Pequeno, discreto,
adjetivos que Beatrice usou para descrever o colar como justificativa para me
dar, ela, me dando para mim mesma... Meus olhos delineiam ‘’Bê’’, mas invés do
redondo, meus olhos fazem curvas. Imagino seu corpo médio e moreno, seus
cabelos lisos me enlaçando, seu corpo me dando voltas e sua voz me fazendo rir.
Um casal de amigas passam rindo em minha frente e desfazem a lembrança de
Beatrice como uma nuvem de fumaça, e momentaneamente eu lembro de ‘’Frankie’’,
um personagem de uma de suas histórias.
Em um
soluço choroso afundo minha cabeça em minhas mãos, e em outro soluço eu apoio
as mesmas no banco de madeira, tentando a segurar, tentando me segurar no que
quer que fosse, assim como Beatrice queria... Mas já é tarde, não era? Mas uma
de minhas mãos deslizam, e eu vejo que é por que tem uma folha de papel ofício
ficando entre minha mão e a madeira.
Meu cenho
se fecha, minha mão se fecha e eu seguro a folha em minhas mãos.
Minhas
pupilas se focam e meus olhos oscilam.
Oh!
‘’Eu morri.
Morri para minha família.
Morri para meus amigos.
Morri para o porteiro do meu prédio.
Morri para a faxineira do meu apartamento.
Morri para mim.
Morri
para ela.
E eu não achava que seria assim. Quer dizer,
eu não achava que terminaria assim. Achava que seria eu a causadora de tudo entre a gente;
isso é muita prepotência? Achava que seria eu a dar a cartada final da nossa amizade; isso é
muito orgulho? Achava que a morte seria apenas um fim, uma linha tênue de sono
profundo. Sem pesadelos. Sem realidade. Mas é muito pior... Sem sonhos. Sem
fantasia ou ficção.
Apenas. A porra. De uma. Realidade. Crua. E
descartável!
Devo repetir? Sem sonhos.
Sem aquilo que você achava que ia conseguir,
sem aquele passatempo doloroso mas indolor de simplesmente inventar o que ia
fazer, ou até comer.
É como costurar a própria pele.
Sem dor.
Sem aquela sensação de que pode ou vai perder
algo. Alias, sem qualquer sensação!
Apenas uma realidade sem a parte realidade,
entende?
Uma coisa monótona.
Como dormir sem sono. Deitar sem ir dormir.
Dormir sem sonhar.
Nessas horas você sente falta até dos
pesadelos!
Quer dizer, eu queria morrer e morri. Não tem
mais dor. Não tem mais nada! Só descanso! E era isso que eu queria, não? Sim.
Mas eu queria ser lembrada! Eu queria me lembrar. Eu queria sorrir por morrer!
Chorar por ter vivido! Me arranhar por ter morrido pra ela.
E assim eu faço;
Me abraçando.
‘’Eu não desistirei de você.’’
Cravando minhas unhas em minhas costelas.
“Eu não sou como as outras pessoas, eu não vou te abandonar.’’
Sentindo meu próprio sangue quente escorrer
por meus dedos.
‘’Eu te amo.’’
Deslizando minhas unhas até minha barriga.
‘’Não existe Caroline sem Beatrice.’’
Sentindo o ardor, sentindo algo arder junto
com meu coração, me deixando ignora-lo.
‘’Você é a melhor parte de mim.’’
Eu sou doentia, mas não pense que eu me
machuquei por qualquer pessoa. Olho para minha barriga e ela está intacta, nada
aconteceu realmente.
Mas eu me machuquei, de qualquer jeito.
Eu me machuquei por mim mesma.
Eu me matei.
Mas não pense que foi por que eu perdi
Caroline.
Mas sim por que eu perdi a mim mesma.’’
Eu estava
embasbacada!
Olhei ao
redor com meus olhos vidrados, certificando-me que eu ainda estava em Londres.
Que eu ainda estava sonhando. Que eu ainda estou no sonho de Beatrice.
Está tudo
escrito!
Meu Deus,
ela não pode morrer.
‘’Sei que essas serão minhas últimas
palavras, minha última história, meu último sonho. Então eu quero que seja algo
significativo. Algo que eu realmente sonhei sem ter medo de colocar nomes
reais, jurar quem foi meu primeiro amor, gritar meus medos, enfrentar minhas
alucinações, beijar meu sonho e parar de escrever, mas agora dizer. Gritar!
Meu real nome é Rebecca Gomes, tenho 28 anos,
estou em frente a London Eye, acabei de voltar de Nova Iorque de uma reunião
dos últimos acertos para o lançamento do meu próximo livro para encontrar minha
melhor amiga, Caroline Santos. Temos uma casa de temporada aqui, e eu escolhi
aqui, exatamente aqui para me encontrar com ela. Eu preciso entrega-la umas
folhas, e ela precisa me mostrar sua nova aquisição, vulgo câmera fotográfica.
Carol é uma fotógrafa. Famosa? Piada perguntar. Seu sonho? Um deles, ela tem
tantos! Preciso me organizar com ela, e ela comigo. E eu digo ‘’organizar’’, e
não ‘’acertar’’, por que bem, se eu usasse essa palavra ela não viria. Se tem
uma coisa que ela não é obrigada, é aturar problemas. Mas a mim ela precisa
aturar, ao menos essa última vez.
— Hey!
Nós não nos abraçamos.
Saquei as folhas da minha bolsa e a
entreguei.
— O que é isso? — ela perguntou, sua voz
ainda era doce assim como seu cheiro, e era apenas quando se tratava dela que
eu conseguia gostar de cheiro doce. Por que para mim, não se tratava de um
cheiro doce, se tratava de ser o cheiro dela.
Sua curiosidade não me deixou responder, e
ela já estava lendo as folhas de papel. Eu pude ver seu maxilar delineado
travar, sua boca pequena se retrair e seus lábios desenhados cobertos por um
batom vermelho parar.
— Não pode ser...
— É o que você escrevia; quer dizer, ao menos
as que eu pude achar. Você fez um bom trabalho escondendo tudo aquilo. — eu já
pendia sobre meus calcanhares, desconcertada. Seu olhar é leitor, e eu sou uma
autora, ela podia facilmente me ler, ela sabia que ela podia.
— Como você achou? — sua boca não fechava
para falar, e suas mãos não soltavam as folhas, seus dedos estavam abraçando as
mesmas em saudade, como um abraço de duas grades amigas que só se conheciam
virtualmente, e finalmente estavam se encontrando – Quer dizer, você mora em Nova
Iorque, e isso aqui..
— Estava no Brasil, eu sei. — a interrompi,
rolando os olhos e os calcanhares, minhas mãos nos bolos da minha calça para
não estar nela, eu queria a abraçar. Minhas costas olhando para ela, ao invés
dos meus olhos. – Eu fui para o Brasil esses dias, dai...
— Pera, você voltou para o Brasil? — Parecia
que eu estava traindo-a. — Por que? Como assim?
Respirei fundo, e finalmente virei-me ainda
com os olhos no chão, mas seus olhos me levantaram para si.
— Eu vou voltar para o Brasil, Caroline. — como ela não falou nada, continuei. — Eu só queria me despedir, então trouxe
isso para você, ou melhor, te devolver. — silêncio — Talvez assim você consiga
se lembrar um pouco dos velhos tempos.
— Eu não acredito... — seus dedos falharam, e
eu segurei sua mão junto com os papeis e apertei para a sustentar. — Rebecca,
porque você vai voltar? Você queria distância! Queria estar longe! Por que vai
voltar?
— Por que eu me sinto sozinha, Carol. — como
se eu estivesse a deixando... — Eu não quero voltar para lá, eu quero voltar
para as pessoas que eu deixei lá.
— Mas e eu? Eu estou aqui.
— Não, você não está. Você está aqui para se
desprender, e não é algo com você, é algo comigo. Não se faça de vítima,
Caroline, mas você não gosta que ninguém te prenda, e você só está de saco
cheio de mim. — respirei fundo, a largando e ajeitando minha bolsa em meu
ombro. — Olha, eu só vim me despedir, ok? — eu queria tanto lhe dizer a
verdade...
— Não. Eu sei que não é só por isso. — Merda! — Você não veio só para se despedir, se não teria me abraçado. Aliás, você
teria me abraçado de qualquer maneira! Não teria voado para o Brasil para
trazer esses malditos papéis, e muito menos estaria tão nervosa, pulando nos
próprios calcanhares. — eu estava mordendo o lábio, de costas para ela para impedi-la de continuar. A maldita me leu! Sua mão pequena segurou firme meu
braço e me virou, ela estava com raiva. – Você quer que eu sinta falta.
Afirmando. Ela era tão calma e meiga, que
quando ficava com raiva era assustador, eu choraria só com a possibilidade dela
chorar.
— Merda, Rebecca! Você quer que eu sinta sua
maldita falta! — agora ela que estava girando descrente, abanando os papeis.
— Por favor, Carol.
— Então tá! — foi ai que ela parou, apontando
os papeis para mim. — Vá. Mas quando você for, não volte. Não faça merda de
texto, nem mande indiretas para mim, nem escreva nem nada; se você for, não
volte.
Ela sabia que eu iria, sabia. Ela sabia que
eu gostava de algo de efeito, mas isso foi cruel. Eu iria, ela sabia, e dessa
vez eu não iria mais voltar.
— Eu não volto. — e eu não voltaria.
Dei dois passou para frente e fechei meus
braços ao seu redor, batendo meu peito no dela, meu soluço batendo no dela,
suas mãos em minha cintura, indecisa entre minha omoplata ou minha cintura; ela
ficou entre as duas. Os papeis que antes ela segurava? Nos rodeavam. Minhas
mãos? Uma a apertava contra mim, outra apertava seus cabelos, os deixando se
enrolar em meus dedos e me dizer que ela é real, que ela estava realmente ali.
Ela exalava um cheiro doce, e o meu era amadeirado, seus cabelos eram grandes,
os meus nem tanto, ela era suave e eu tinha vontade de choramingar.
— Eu te amo. — soprei em seu ouvido.
— Eu também te amo. — mas eu não fiquei lá
para senti-la soprando, nem para vê-la recolhendo os papeis.
Eu já tinha ido embora, e dessa vez, eu não
ia voltar.
Concorda? Com corda. E suicidou-se, partindo
seu coração em duas partes.
Como dois pedaços de um coração partido...”
Esse era
seu sonho?! Era assim que iria terminar?
—Não! — gritei.
— Tá
louca, garota? Cruz credo! — minha irmã gritou comigo, e eu estava pingando em suor. Curvei-me rodeando minha própria cintura com os
meus braços imaginando os dela, minha mãe apareceu no quarto.
— Está
passando mal, Carol?
— Cólica,
mãe. — Sim.
E então
tudo começou.
Continuou.
Terminou.
Dormi,
por que estava doendo, e não era só meu abdômen.
Rebecca/
Pingente
dourado de coruja repousando na palma da minha mão, e eu enfio meu nariz ali,
cheirando como eu a cheiraria. Cheiro de ferro, mas eu só consigo sentir um
cheiro doce, tentando imaginar aquele colar que agora é meu em seu pescoço.
Eu queria
imagina-la sentindo minha falta, quero falar com ela, mas sei que eu seria
grudenta o suficiente e ela só precisa de um tempo de mim, por que eu iria
querer.
Resmungo enquanto
folheio um livro qualquer, estou com tanto tédio!
E o pior,
eu tenho tanto a fazer!
Caroline/
Eu
preciso ligar para ela.
Ela
simplesmente não pode desistir.
Ela não
pode desistir de mim.
Nada
ajuda, estou simplesmente presa, presa a quilômetros longe dela.
— Preciso
falar com a Bê, ela simplesmente não entende que eu estava ocupada esses dias e
não tinha tempo para falar com ela.
Tento
falar para minha irmã, mas ela está enfurnada em seu celular, e eu queria estar
como ela.
— Eu te
amo, tá? — Rebecca tinha deixado uma mensagem.
— Eu também
te amo até a Lua(ida e volta).
Incrível.
Simplesmente incrível o jeito como a gente estava brigada, o que era bem sério,
e agora simplesmente estamos nos amando de novo, ou como sempre, por que afinal
a gente nunca parou de se amar; acho que é nossa maneira de dizer que nossa
amizade é muito maior que essa magoa toda, maior o suficiente para sentar em
cima dela e releva-la.
— E...
Sabe a história lá? Terminei. — que história? Ela escrevendo?
— 'História
lá'? Ahm? E a partir de agora falarei assim: Te amo até a lua(Ida e volta); é fofo!
— Dois
pedaços. (inventei o nome ontem, quando eu terminei), a história que eu escrevi
para ti, lesada!
Oh!
— Eu
quero ler!!! Mas você tá fazendo eu me atrapalhar, a gente precisa conversar.
Ponto.
Eu podia vê-la
se ajeitar onde quer que esteve e já preparar seus dedos atrevidos.
— Aconteceu algo?
— Aconteceu.
Nada. Ela
está me esperando terminar e mostrar meu ponto.
— Você
não me chama mais de ‘’Bê’’, ou ao menos faz muito tempo. Quem é ‘Caroline’?
Isso prova que você ainda está irritadiça comigo, mesmo depois de todo esse
amorzinho. Eu te deixei dormir várias noites magoada comigo, com a gente, você
não iria se dobrar tão fácil.
Vi que
ela estava escrevendo, então me adiante.
— Cale os
dedos e deixa eu terminar!!!
Três exclamações.
— Termine. — ela. Ponto. Ela está concordando comigo, aposto que seu maxilar está trancado agora.
— Você
está distante e se fechando novamente; e eu só queria que você me entendesse
que eu não faço por mal. Agora me diz, qual é o problema?
Segundos.
Um
minuto, e um pouco mais de segundos.
— Por que
eu sinto que você que está distante, e a gente está realmente longe uma da
outra, o que não ajuda! Eu sinto tantas saudades de você, que só é difícil, e
eu fico assim, grudenta, querendo que você sinta tanto quanto eu. Eu só quero
que você sinta falta, que você sinta! Você é tão malditamente calada e calma,
tão suave, que me dá vontade de choramingar e te chacoalhar pelos ombros, te
machucar até te fazer gritar!
Outch!
— Meu
problema todo com ‘’ a gente’’, é que eu quero brigar com você, faze-la gritar,
quero te ver reagir! Mas eu só vejo você fugir, ou se retrair. Daí eu fico
fazendo inúmeros textos pra você, sendo afetiva! Chegando a ser grudenta, o que
eu não sou! Estou desesperada, não estou segura, e eu sinto sua falta.
Ops.
Essa era
eu, e eu só não conseguia escrever tão bem quanto ela, me jorrar a cada letra
para ela ver o que eu estou sentindo.
É ela que
faz a gente ver muito além das letras, não eu! Eu só sinto que eu não consigo
dar o que ela precisa, e eu realmente pensei em digitar alguma coisa para sair
dessa conversa, mas eu demorei demais para digitar e ela foi mais rápida que
eu.
— Olha,
quer saber? Depois a gente se fala, Caroline.
Não!
Parece que eu a ataquei! Parece que eu que sou a culpada agora! E é tão
revoltante o fato dela querer sair dessa conversa! Outch, entendi. Mas ela já
estava off-line. E eu só estava desesperada o bastante por que eu sabia que ela
foi, e que ela está chateada o bastante e lutando consigo mesma para voltar.
Terminaria
assim?
Acabou?
Enquanto
eu me perguntava, ouvi alguém falando comigo, me entregando papéis que eu fui
obrigada a segurar.
— Estava no Brasil, eu sei. Eu fui para o Brasil esses dias, dai...
Não!
— Eu vou voltar para o Brasil, Caroline.
Eu só queria me despedir, então trouxe isso
para você, ou melhor, te devolver; talvez assim você consiga se lembrar um
pouco dos velhos tempos.
Olhei
para os papeis que eu segurava incrédula, e logo depois ao meu redor.
- Eu não acredito... – falei embasbacada,
mas que merda! Eu só estava continuando! Estava acontecendo! Era o fim!
- Por que eu me sinto sozinha, Carol. – meus
ouvidos se tamparam, eu não conseguia ouvir nada, só seus lábios se movendo
junto com ela mesma. Como ela teria coragem de fazer isso comigo? Ela não pode
simplesmente se despedir de mim e acabar assim, ou o pior, eu a deixar ir.
- Não, você não está. Você está aqui para se
desprender, e não é algo com você, é algo comigo. Não se faça de vítima,
Caroline, mas você não gosta que ninguém te prenda, e você só está de saco
cheio de mim. Olha, eu só vim me despedir, ok?
Mas ela
estava certa, não estava?
Isso era
tudo que eu queria! Só me desprender!
Eu estava
ficando louca, minha mente não parava de trabalhar e eu estava desnorteada.
Flashbacks me faziam piscar e simplesmente rodar, dar as costas para as besteiras
que Rebecca estava tentando falar, mas só sua boca se movia...
‘’Sentada em um banco em
Londres observando London Eye, com 27 anos, com minha profissão de fotógrafa
profissional estabilizada e completamente livre, eu não me sinto presa nem por
um misero segundo!’’
Eu conseguia ouvir minha própria voz narrar isso
pra mim.
‘’Beatrice
está morta.‘’
Parecia que eu estava
lendo minha declaração em seu funeral!
‘’Eu
era livre!‘’
Ou esse funeral era meu?
‘’E
agora eu entendia que ela queria só me prender em algo, ao menos em algo... Oh.’’
Minha voz ecoava em
minha própria mente.
"Para sempre quando
você se perder em seu grande pequeno mundo, você ter algo a quem voltar".
Como eu nunca enxerguei
isso antes? Como eu nunca ouvi isso antes? Tinha que ser minha própria voz a
falar, e agora, vendo ela falando em mudo, em Londres, eu consigo ouvir sua voz
sussurrando isso no meu ouvido.
‘’Mas
quando ela abriu os braços, eu fugi, por que ela os fecharia mesmo que em um
abraço.’’
Não!
‘’E eu
ainda não achei minha aceitação, e agora eu sei que ela está enterrada num
tumulo.’’
Eu não queria imaginar
Bê morta!
‘’Por
um lado eu queria acreditar que tudo aquilo fosse verdade, mas por outro... Bê
morta? Eu em Londres! Esqueci da outra parte e me foquei em Londres. ‘’
Agora,
ouvindo minha voz ecoar isso só para mim, eu consegui me sentir um monstro, mas
eu não estou no Brasil.
Parei
minha mente rodando em lembranças, parei London Eye, ela não queria que eu
gritasse? Não queria que eu reagisse?
— Não! Eu sei que não é só por isso! Você não
veio só para se despedir, se não teria me abraçado. Aliás, você teria me
abraçado de qualquer maneira! Não teria voado para o Brasil para trazer esses
malditos papeis, e muito menos estaria tão nervosa, pulando nos próprios
calcanhares. — eu estava desesperada. Segurei forte em seu braço e a virei para mim, enfrentando-a. Aguente! – Você quer que eu sinta falta... — continuei. — Mas eu não vou! Por que eu não vou te deixar ir.
E com o
mesmo braço que eu a segurava, eu a puxei, e eu sabia que era só isso que ela
queria, só isso que ela precisava, e eu também.
Eu
gritei.
Eu reagi.
Eu a
abracei.
Ela
precisava sentir seu coração inteiro novamente, eu sentia que algo estava faltando,
nos éramos uma só, só estávamos divididas e fomos separadas. Nós somos apenas
dois pedaços.
Dois
pedaços.
Dois
pedaços partidos de um mesmo coração.
Oh!
Abro meus
olhos e vejo meus pais depois de um véu de cabelo extremamente lisos, meus olhos
estão molhados, todo meu rosto, e eu estou chorando. Levo minhas mãos ao meu
rosto para limpar o mesmo, mas outros dedos tentam desajeitadamente tentar
secar minhas lágrimas.
Oh!
Um ‘’Bê’’ estrangulado alcança meus ouvidos,
e ele está carregado de sotaque.
Soluço e
minhas mãos alcançam suas costas novamente e a puxa pra mim, uma de suas mãos
segurando meu cabelo e o apertando em sua palma, meus braços se enrolando em
sua cintura e sua outra mão no meio das minhas costas, me puxando pra si. É um
abraço desesperado, e eu só sinto que vou explodir; abraço Bê como se eu
estivesse abraçando meu sonho, para não deixar escapar. A gente se olha de
novo, eu ainda não acredito que ela está aqui, e dessa vez eu não estou
sonhando.
Será que
ela teve os mesmos sonhos estranhos que o meu?
Aliás,
era o sonho dela!
Mas afinal,
é o mesmo coração, e nós somos pedaços do mesmo.
Mas agora
a abraçando, eu sinto, olhando para seu rosto, eu leio; vivendo, eu sonho.
Somos a
mesma história, mas escrita de maneiras diferentes.
Somos a
mesma escrita, mas com letras diferentes.
Somos o
mesmo coração, mas com pedaços diferentes.
Fim!
Para Carol, bem, vai lá no bp e me conta tudo u.u
E como explicação para o meu sumiço, e agora chegada com uma short simplesmente sem pé nem cabeça, bem, não tem explicação. Se eu vou voltar? Sim. Quando eu vou voltar? Quando eu tiver algum material descente para mandar para vocês. Mas contar com inspiração é algo totalmente incerto, então é isso que eu deixo para vocês, uma certeza incerta.
Eu vou voltar.
E se tem alguém do lado dai, eu agradeço, só por ainda ter tido a dignação de rolar essa página, por que bem né...
E para fechar...
Beijos gatas seduzentes.
Melhor. Video! <3
(sim, eu viajei pro Rio só pra abraçar uma garota, ou devo dizer meu outro pedaço? A melhor parte de mim, anyway <3)