Minha hora.
Quando Demetria acordou no dia seguinte, Selena estava deitada no sofá digitando no celular e sorrindo.
Logo a garota soube que se tratava de seu pai, e sorriu.
— Hum. — sentou-se na cama. — Como está meu pai? — seu sorriso
malicioso enquanto se espreguiçava não entrou na visão da enfermeira. Ela nem
olhava! O celular tinha toda sua atenção, ou melhor, seu pai tinha toda sua atenção.
— No trabalho. Ele está bem. — soltou, inerte. — Oh. — agora sim.
A menina explodiu em uma risada ao notar as covinhas evidentes no
rosto da enfermeira, corada.
— Dem... — foi cortada pela voz sonolenta e divertida da menina.
— Pare com isso, ok? Eu gosto. — a menina sorriu. — Gosto de te ver feliz e meu pai também. Gosto de ver vocês dois felizes; juntos. —
assinalou.
Gomez levantou-se do sofá deixando seu celular lá, e abraçou a
garota, acariciando seus cabelos.
— Gosto de lhe ver assim. —a voz da enfermeira falhou, com
lágrimas nos olhos, se segurando para não chorar. — Feliz, sorrindo, rindo, ou
o que quer que seja. — riu nervosa, se engasgando com suas próprias lágrimas.
Era assim que Demetria se sentia.
Depois de comer algo, a menina rumou para o jardim, passando pelo
pátio ainda cheio de gente com tanta convicção em seus pés quanto a certeza de
estar viva, de respirar e expirar.
Tentou não pensar no que as pessoas pensavam ao lhe ver
praticamente correndo igual uma doida a caminho do jardim. Afinal, quem seriam
eles para julgar alguém parecendo um louco?
A garota não saberia o que eles estavam pensando. Ela não sabia nem o
que ela mesma estava pensando!
Rompeu pela porta do jardim ofegando.
Céus, só agora ela percebeu o quanto era sedentária! Mas seu
corpo não dizia isso fisicamente.
Ela estava animada e ultrajada por ver tantas pessoas aglomeradas
naquele bendito jardim. Mas não queria entrar na roda. Rumou para longe das
pessoas, e alcançou um lugar distanciado, quase perto do alojamento dos
enfermeiros da clinica. Quase. Mas perto o suficiente de uma menina que estava encostada no tronco de uma árvore, os cabelos
vermelhos estavam mais vivos, combinando com o sangue que andava por sua pele.
A
menina não gemia, ou gritava, sua expressão era vazia ao se arranhar, assim
como seu corpo e cordas vocais. Sua coxa direita sangrava, sujando a grama com
suas lágrimas vermelhas. Suas lágrimas de sangue.
E
agora, o choro da menina não existia, eram somente lágrimas, lágrimas essas que
estão sujando a grama. Lágrimas de sangue.
A
garota de cabelos pretos olhou para o braço da menina, para a mão, e não
encontrou nada. Seus olhos regressaram para o pulso da menina, acariciando o
local com seus olhos negros, e a menina pareceu sentir. Virou o rosto vazio
para a esquizofrênica, e agora sim, ela gemeu rancorosamente em choro, se
desmanchando em lágrimas.
Demetria reconheceu aquela garota.
Era a
mesma do refeitório, que acenava para si enquanto sorria. Parecia tão feliz...
Um
sorriso pode esconder tantas dores.
Seus
joelhos arderam ao ralar na grama, como se a mesma não quisesse ela lá, a
quisessem afastar.
Ela
sentou-se em cima de seus calcanhares, no lado esquerdo da menina, e deixou sua
mão direita pousar em cima da mão daquela menina, a mesma por sua vez, estava com
as unhas de sua mão direita cravadas em sua coxa ensanguentada.
Seus
olhos se comunicavam, mas a esquizofrênica nada falava, só deixava sua mão lá, agora
parando a mão da menina que antes arranhava sua coxa, realizando acordes,
tocando a música de sua dor. Ambas as mãos descansaram em cima do sangue
quente.
Ela deixou a menina
chorar, enquanto seus olhos impassíveis não vacilavam ao encarar sua dor em
seus olhos.
— Obrigada. — ouviu os lábios cansados da menina sussurrar.
— Obrigada pelo quê? — sua voz era dura, não repreensiva, mas tensa
pelo que tinha em mãos.
— Por me fazer chorar. — ela ainda soluçava em choro.
Lovato não soube o que pensar, ou melhor, soube, mas não soube o que
falar.
— Eu estava explodindo. — soluço. — E ninguém notava. — outro
soluço, pendendo a cabeça para o outro lado como um peso morto. — Eu queria
que percebessem. — tossiu. — Muito. Eu precisava. — outra tosse. Ela engasgou
com suas próprias lágrimas. — E não é para chamar atenção dos outros. Você a
cima de tudo sabe. — voltou a olhar para a esquizofrênica. — É para chamar a
própria atenção. — fungou. — É para saber que você está viva, quando todos
acham que você está morta. — outro acesso de choro. — Quando até você mesma começa a
achar isso.
Ela definiu Demetria naquele momento. E agora, ela soube
colocar em palavras sua própria verdade.
Ela não devia explicações para a esquizofrênica. Ela sabia disso. Mas a
explicação da ruiva não era para a esquizofrênica, era para si mesma. Ela se
devia uma explicação. E agora, colocando isso em palavras, parecia ridículo.
— Isso parece ridículo. — soltou uma tosse risonha, tirando a mão
ensanguentada de baixo da mão da morena, e limpando os olhos com o antebraço —
Mas eu só precisava saber que eu estava viva.
A menina depositou a mão suja de sangue em cima da de Lovato que
continuava em sua poça de sangue. Sorriu.
— Ontem, quando eu olhei para você, eu vi que as pessoas estão
enganadas. — Oh! — Todos viam você
como uma pessoa com a humanidade morta. Uma pessoa morta, mais do que todos por
aqui. Um exemplo para não ser seguido, se não acabariam como você. — sorriu. — E
por um momento, eu quis isso.
Demetria tossiu, tirando os cabelos pretos dos olhos com o antebraço, já que
a mão estava suja de sangue.
— Não sou um bom exemplo a ser seguido. — riu.
— Quem é? — a ruiva continuou, rindo. — Mas você provou que todos
estavam enganados, Demetria. — ela queria a convencer. — Você é melhor que isso
tudo.
Lovato expirou profundamente.
— Vocês tem que parar de dizer isso.
— Vocês quem? — a ruiva perguntou, olhando para coxa e empurrando
o excesso de sangue que lá estava descansando para a grama.
A esquizofrênica não respondeu.
— Ninguém. — tragou a saliva como sua dose de mentira.
— Essa é a sua verdade? — seus olhos eram uma metamorfose de
cores.
— Não. — apoiou a mão suja de sangue nas gramas, e se levantou.
A menina a imitou, fazendo uma careta de dor ao apoiar a perna
ferida no chão.
— Agora você se senti viva? — Lovato perguntou para a ruiva.
Por que ela queria ataca-la com essa pergunta?
— Não. —soprou a mexa vermelha de cabelo de seu rosto. — Agora eu sei que estou.
A ruiva não falou mais nada, seus olhos marejaram ao responder a
pergunta da garota, e de lá ela rumou para a entrada do jardim.
Demetria observou ela dar quatro passos mancando, e cair de joelhos no
chão na tentativa do quinto.
Seus cabelos castanhos escuríssimos, praticamente pretos, beijaram o vento ao correr para ajudar a
menina.
A ruiva tentou se esquivar, ela não queria ajuda. Mas ela
precisava.
O corte foi fundo, e ela não conseguia apoiar o lado direito no
chão; então Lovato a abraçou de lado e a segurou pelas costelas, forte, a
levantando do chão e a puxando para si, ajudando-a a andar.
— E você? — depois de uns passos, a ruiva perguntou. — Você se
senti viva? — observou o perfil da esquizofrênica enquanto a mesma a ajudava a andar.
— Não. Mas eu sei que
estou. — ela não foi dura, não pareceu rígida e nem com raiva. Ela só
respondeu, enquanto a puxava mais para si enquanto andava.
— E o que faz você se sentir viva? — tentou facilitar jogando a
perna direita para frente enquanto pulava com a esquerda.
— Antes, me machucar. — puxou uma longa respiração. A caminhada
não era longa, mas não era muito perto. — Agora, eu apenas sei. — passou o
antebraço do braço livre pela coxa da menina que ainda jorrava sangue. — Os
cortes pelo meu corpo já são suficientes para eu saber que se sentir viva dói; mas viver... Viver é outra coisa. — arfou. Depois de um tempo, a menina começou a
pesar. — É o que eu estou fazendo agora.
Elas estavam chegando na porta de entrada, as pessoas começavam a
olhar e fofocar, e por um instante a ruiva se sentiu como Demetria, e ela desejou
sumir.
Até ajudar o outro é motivo de desgosto.
— Me ajudar lhe faz viver? — riu descrente.
Lovato parou de caminhar, e consequentemente a menina. Elas se
encararam, então a esquizofrênica falou:
— Não. — continuou... — Fazer o que eu quero, e não o que os outros
desejam, me faz viver. Saber o certo, enquanto os outros pensam o errado, me
faz viver. Não perder meu tempo querendo viver, me faz viver. Por que desde
quando eu sair do ventre da minha mãe eu estou vivendo, mas às vezes eu me
esqueço disso, e outras vezes, as pessoas me fazem esquecer.
A ruiva tragou sua saliva a seco, e então gemeu em força, dando
impulso para frente e se apoiando em Lovato.
Demetria empurrou a porta com um braço, e com o outro puxou a garota
para frente para que ela pudesse entrar no pátio.
Brutamontes vestidos de azul brotaram do chão e tiraram a esquizofrênica de
perto da menina, dando suporte para a mesma; mas a ruiva firmou-se no canto e falou:
— Meu nome é Melissa, mas pode me chamar de Mel. — ela esperava uma
resposta da esquizofrênica.
A mesma pensou se algum dia a chamaria de Mel...
Então ela apenas acenou afirmativamente com a cabeça, mas ambas souberam
que aquilo não era uma apresentação ou uma introdução, mas sim uma despedida, uma
conclusão.
Os paramédicos a levaram para longe, e uma sirene tocou. Uma onda de
pessoas saíram do jardim e se espalharam pelo pátio.
Agora era a hora da esquizofrênica.
Continua...
Sei, sou muito lesada! Era para eu ter postado segunda! Mas não deu certo por que eu estava tão, tão ocupada e preocupada! Que eu nem... Enfim!
No texto que eu postei antes desse post, é da minha autoria, lógico! Mas não foi um pedido, é para mim. Eu escrevi tentando... Sei lá, aliviar a tensão, expor meus problemas para eu mesma, e normalmente eu não posto os textos que eu faço para mim aqui. Mas esse eu postei, eu escrevi ontem, e eu achei que vocês deviam entender um pouco do que e por que eu estou tão avoada esse tempo. O nome do texto se chama ''Meu Balançador'' ;)
Até sexta-feira! E, ah, eu tenho uns vídeos aqui que eu gravei do quanto eu posso ser idiota no meu dia a dia kkkkkkk Se quiserem que eu poste, eu posto ainda hoje, ou sai amanha de manha :) Ai eu posto aqui KKKKK Eu aviso lá na página do facebook ;) E no meu twitter também, que agora estou voltando a usar já que antes estava abandonado :) Então é isso.
Beijos gatas e gatos seduzentes ;*