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30 de jan. de 2014

Angustia ardida.


 Meus olhos embargados denunciam meu coração vazio. Dobro minhas pernas e abraço meus joelhos, tentado buscar forças para continuar, buscando força em algo que não seja a angustia que me admira, admira sua obra ao passar dos anos. Ela me transformou tanto. Risco minha coxa com minhas unhas e suspiro. Amor só se cura com mais amor, e dor, infelizmente só se cura com mais dor; Penso assim.
Cravo minhas unhas em minha coxa e entreabro os lábios. ‘’Não, não, de novo não... ’’ clamo a angustia que me admira de perto. Traiçoeira! Assim como meu coração. Com lágrimas no rosto, enfio a mão de baixo da minha cama e tiro de lá meu pecado, minha morte, minha dor, meu remédio doloroso e traiçoeiro. Minha vida é cheia de traições; penso. Com minha morte em mãos, entro no banheiro carregado de angustia e tranco a porta. Olho-me no espelho e vejo-me desgastada, traída, angustiada.
Sento-me no chão do banheiro aos prantos e arfo ao olhar minha coxa. Meu próximo alvo, minha próxima válvula de escape. Deposito a lâmina prateada em cima de minha coxa e gemo. Imagens da minha vida desastrosa passam em minha frente e corta meus olhos, arrancando mais lágrimas dele e depositando força em minha mão, fazendo-me soltar um gemido ao notar o sangue em meu corpo. O que eu mesmo causei.
Teimo com minha própria dor a verdadeira causadora do meu sangue carregado de traições. Eu digo que a culpa é dos outros por me causarem tanta dor, mas a própria vitima nega, alegando que eu que me fiz doer. Mas não adianta, eu sou muito teimosa para acreditar nisso. Para acreditar em mim.
A grande verdade é que a culpa é mesmo minha. Por ser tão fraca e achar que o único jeito de aliviar minha dor é assim. Fazendo doer mais. Sou eu que me corto, sou eu que me dou, sou eu que não acredito em mim, que eu posso parar, sou eu que vejo e faço meu sangue arder em meu corpo. Sou eu. E vai ser apenas eu que vou poder parar, fazer parar, me salvar dessa angustia ardida.

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