Cravo minhas unhas em minha coxa e entreabro os
lábios. ‘’Não, não, de novo não... ’’ clamo a angustia que me admira de perto.
Traiçoeira! Assim como meu coração. Com lágrimas no rosto, enfio a mão de baixo
da minha cama e tiro de lá meu pecado, minha morte, minha dor, meu remédio
doloroso e traiçoeiro. Minha vida é cheia de traições; penso. Com minha morte
em mãos, entro no banheiro carregado de angustia e tranco a porta. Olho-me no
espelho e vejo-me desgastada, traída, angustiada.
Sento-me no chão do banheiro aos prantos e arfo ao
olhar minha coxa. Meu próximo alvo, minha próxima válvula de escape. Deposito a
lâmina prateada em cima de minha coxa e gemo. Imagens da minha vida desastrosa
passam em minha frente e corta meus olhos, arrancando mais lágrimas dele e
depositando força em minha mão, fazendo-me soltar um gemido ao notar o sangue
em meu corpo. O que eu mesmo causei.
Teimo com minha própria dor a verdadeira causadora
do meu sangue carregado de traições. Eu digo que a culpa é dos outros por me
causarem tanta dor, mas a própria vitima nega, alegando que eu que me fiz doer.
Mas não adianta, eu sou muito teimosa para acreditar nisso. Para acreditar em
mim.
A grande verdade é que a culpa é mesmo minha. Por
ser tão fraca e achar que o único jeito de aliviar minha dor é assim. Fazendo
doer mais. Sou eu que me corto, sou eu que me dou, sou eu que não acredito em
mim, que eu posso parar, sou eu que vejo e faço meu sangue arder em meu corpo.
Sou eu. E vai ser apenas eu que vou poder parar, fazer parar, me salvar dessa
angustia ardida.
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