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19 de jan. de 2014

Enferrujando-me.

     Estou mancando. Meu pé foi ferido por uma pedra pontiaguda. Ou será que foi meu coração? De qualquer modo, está doendo e me impedindo de andar. O peso que carrego dilacera-me e me impedi de andar, a situação piora com a dor que carrego comigo até hoje.
Penso em me jogar de um precipício e acabar com essa dor que me acaba, mas até para isso precisa-se andar. Repenso o caso e sinto-me uma dramática aleijada, mancando. Repenso de novo e percebo que não estou aleijada, apenas mancando. Coração aleijado. Concluo depois de repensar novamente.
Vejo os outros se apoiando em mim para andar, como se eu fosse uma muleta. Como se já não bastasse minha dor e meu rancor corroendo minha garganta, eu ainda vejo as lágrimas de outros, como um ácido em minha pele. Enferrujando-me. Fazendo-me tombar no chão enquanto eu tento caminhar para o meu fim. O fim da minha dor. Por que é tudo que eu quero: fazer parar. Arrancar esse nó constante em minha garganta e rasgar minha pele calejada.
Ofego segurando meu coração. Acabo caindo novamente enquanto apoiavam-se em mim. Meu braço estirado no chão carregando meu coração ficou sem vida, mole como minhas pálpebras que teimavam em permanecer de pé. Por fim, suspirei. Jorrando meu coração no chão, descansando por completo.
Um som alto ecoou em meus ouvidos, me acordando de meu pesadelo para me despertar a outro. Era minha irmã, me chamando para ajuda-la em seu pesadelo; em sua vida. Tão nova e tão vulnerável, tão eu. Era por ela que eu deveria continuar a caminhar, servindo de muleta para ela e sendo forte por ela. Olhei para porta e vi minha mãe chorando. O rancor grudou em minhas entranhas novamente. Caminhei até suas lágrimas e não as sequei. Abracei-a forte, minhas lágrimas se misturando com as dela. Nossas lágrimas me enferrujando e me fortalecendo. Por que a base de lágrimas, eu me sustento.

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