Estou mancando. Meu pé foi ferido por uma pedra pontiaguda. Ou será que
foi meu coração? De qualquer modo, está doendo e me impedindo de andar. O peso
que carrego dilacera-me e me impedi de andar, a situação piora com a dor que
carrego comigo até hoje.
Penso em me jogar de um
precipício e acabar com essa dor que me acaba, mas até para isso precisa-se
andar. Repenso o caso e sinto-me uma dramática aleijada, mancando. Repenso de
novo e percebo que não estou aleijada, apenas mancando. Coração aleijado.
Concluo depois de repensar novamente.
Vejo os outros se apoiando em mim
para andar, como se eu fosse uma muleta. Como se já não bastasse minha dor e
meu rancor corroendo minha garganta, eu ainda vejo as lágrimas de outros, como
um ácido em minha pele. Enferrujando-me. Fazendo-me tombar no chão enquanto eu
tento caminhar para o meu fim. O fim da minha dor. Por que é tudo que eu quero:
fazer parar. Arrancar esse nó constante em minha garganta e rasgar minha pele
calejada.
Ofego segurando meu coração.
Acabo caindo novamente enquanto apoiavam-se em mim. Meu braço estirado no chão
carregando meu coração ficou sem vida, mole como minhas pálpebras que teimavam
em permanecer de pé. Por fim, suspirei. Jorrando meu coração no chão,
descansando por completo.
Um som alto ecoou em meus
ouvidos, me acordando de meu pesadelo para me despertar a outro. Era minha
irmã, me chamando para ajuda-la em seu pesadelo; em sua vida. Tão nova e tão
vulnerável, tão eu. Era por ela que eu deveria continuar a caminhar, servindo
de muleta para ela e sendo forte por ela. Olhei para porta e vi minha mãe
chorando. O rancor grudou em minhas entranhas novamente. Caminhei até suas lágrimas
e não as sequei. Abracei-a forte, minhas lágrimas se misturando com as dela.
Nossas lágrimas me enferrujando e me fortalecendo. Por que a base de lágrimas,
eu me sustento.
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