Sinto-me em um incêndio, sem
ninguém para me salvar, ninguém me vendo queimar. Minhas lágrimas tentam apagar
o fogo que me rodeia, mas eu me esqueci de que eu choro fogo. Queimando minha
pele, queimando meus olhos, queimando minha alma, queimando meu coração já em
chamas.
Ninguém vem me buscar, mas eu me
esqueci de que estou em meu próprio quarto, que eu mesma tranquei. Tento achar
a chave para abrir a porta, mas eu me esqueci de que ela está dentro de mim,
enterrada em meu coração em chamas. Grito em desespero, afundando a mão em
minhas chamas, sentindo minhas entranhas se retesarem cada vez mais em uma pressão
enorme. Ofego ao olhar a chave fria em minha mão. A minha chave.
Enquanto rastejo até a porta de
meu quarto em chamas, sinto a dor de meu corpo me corroer por completa, me
fazendo franzir a testa e um grito rancoroso cortar meus
lábios ressecados. A solidão ronda meu quarto desesperadamente,
percebendo o meu objetivo e percebendo qual seria seu destino. Provar do seu
próprio veneno, ficar só e queimar amargamente. Com a porta já aberta, ofego
novamente.
Anos esperando alguém vir me
buscar, anos queimando, anos esperando alguém vir me salvar, anos gritando e
chorando desesperadamente. Mas eu me esqueci de que a única que poderia me
salvar sou eu.

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