Não importa o que eu faça, eu sempre vou cair. Olho
para o espelho a minha frente e vejo-me uma desengonçada, uma coisa que verdadeiramente
sou, já que vivo caindo. Mas minhas quedas levam não só meu corpo quebrado ao
chão, mas também meu coração desengonçado.
Sinto o cheiro dilacerante da minha dor, sinto a
temperatura elevada do meu sangue escorrer sobre minha pele, sinto tanto...
Dói-me tanto. Sou um patinho desengonçado dentro d’água, navegando em sua
própria dor, velejando em seu próprio sangue, sendo soprado pela sua própria
amargura. Essa sou eu, essa menina desengonçada que você vê na rua e a perdi de
vista como só mais uma em meio à multidão. Mas é essa mesma menina que fica
encolhidinha dentro do banheiro, chorando escondida e apreciando o seu próprio
sangue em sua própria pele como uma válvula de escape.
No chão empoeirado de meu quarto, suspiro por
finalmente cair, franzo a testa pela dor ardida que me consome. Mais uma vez.
Gaguejo com meu próprio sangue em minha boca, depois o cuspo no chão como a
vida fez comigo. Preparo-me para levantar do chão com meu corpo quebrado, e
como de costume, continuo a andar na vida que tanto me inveja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário